quinta-feira, 29 de novembro de 2012

O meu almoço dava um filme indiano

Na ausência das grandes coisas, aproveita as pequenas — e, se não existe um velho provérbio chinês que postule esta verdade, devia haver; inventem-no imediatamente (uma das vantagens dos ancestrais adágios chineses é que podem ser falsificados em qualquer altura).

Entre as pequenas coisas do dia de ontem, por exemplo, retenho o fio de sol sob o qual me deixei ficar a fumar para ver se aquecia o corpo, bem como o momento em que reparei que estava a caminho do melhor restaurante indiano do mundo (do meu mundo e respectivos arredores, entenda-se), o Mendi, e que levava debaixo do braço o livro O Colecionador de Mundos, de Ilija Trojanow, cuja primeira parte trata precisamente da passagem de Richard Francis Burton pela Índia. Acompanhado de um belíssimo caril de borrego e com banda sonora a condizer, o romance, excelente, lê-se ainda melhor, como se se estivesse dentro dele (ou outro lugar comum qualquer), viajando pelo Sindh enquanto se mordiscam sementes digestivas que podiam perfeitamente ter sido compradas ao bazzaz Mirza Abdullah.

Quando saí do restaurante, de regresso a casa, Burton estava para sair da Índia e voltar a Inglaterra. Mas hoje já chegamos ao Cairo.