quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Breve resumo de um mês de vilanagem (a partir dos posts no Facebook)


Em dia de jogo da selecção nacional de futebol, o presidente do conselho anuncia que os trabalhadores vão pagar mais contribuição para a segurança social, para compensar a diminuição da fatia da taxa social única paga pelos patrões.

Pedro Mota Soares, do CDS, o Ministro (salvo-seja) da Solidariedade e Segurança Social, comenta as medidas do Governo afirmando que a “redistribuição das taxas sociais vai embaratecer o custo do trabalho”. Ignora olimpicamente que, se isso é verdade para os patrões, para quem trabalha o custo do trabalho encarece bastante, o equivalente, mais ou menos, a um salário por ano. Ou seja: pagamos cada vez mais para trabalhar.

A Segurança Social, para a qual iríamos pagar mais um ordenado por ano, é aquela instituição destinada a assegurar-nos, por exemplo, uma reforma — que, já sabemos, vamos receber cada vez mais tarde e apenas se não se confirmar que não vamos receber coisa nenhuma, como sugerem as pessoas do espectro político do Mota Soares, do Paulo Portas, do Passos Coelho, do António Borges, do Cavaco e do Relvas, já que os sucessivos governos, incluindo este, usam dinheiro da Segurança Social para disfarçar o défice e jogar na bolsa.

Calculista, as usual, Paulo Portas, também do CDS, demarca-se da medida e diz que não concorda.

Embora costume referir-se aos portugueses que passam dificuldades chamando-lhes "piegas", o presidente do conselho considera que o eventual voto de alguns deputados contra o Orçamento de Estado seria "uma tragédia para Portugal". Semântica ou falta de decoro?

Enormes manifestações tomam conta das principais cidades do país e o Governo, pressionado até pelos patrões, anuncia um recuo nas impopulares medidas, fazendo passar a ideia de que tudo não passou de um "problema de comunicação".

O primeiro remendo anunciado pelo presidente do conselho sugere um novo ataque à classe média, mantendo a estratégia de tornar social e fiscalmente atractivos os salários mais baixos da Europa civilizada, até ao dia em que seremos todos, outra vez, pobrezinhos mas honrados.

Um mês depois, o ministro das Finanças anuncia, enfim, as medidas resultantes do recuo do Governo. Ficamos a saber que, afinal, o Governo não vai roubar-nos mais uma parte do ordenado. Vai apenas roubar-nos mais uma parte do ordenado. Tudo está bem quando acaba bem.