sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Manual prático para mais um dia de preguiça

Acordei mais cedo do que tem sido costume e com o sol a insinuar-se entre os buraquinhos da persiana, circunstância que me fez imaginar que me levantava da cama muitíssimo vivaz e que, por isso, seguiria o exemplo de W.G. Sebald n'Os Anéis de Saturno e sairia para a rua disposto a caminhar durante o dia todo, indo daqui até Melres a pé, por exemplo, ou daqui até Angeiras sempre a caminhar junto à praia, determinado como um marine dos filmes. Deitado na cama e a imaginar que palmilhava quilómetros como um peregrino de coisa nenhuma, planeava já certos troços do caminho que faria e deitava contas ao que necessitava absolutamente de levar — água, máquina fotográfica, um caderninho no qual tomaria as notas (naturalmente muito perspicazes) que, depois, desenvolveria —, quando resolvi, enfim, levantar-me de um salto e tomar banho. Foi então que notei que me doía o pescoço e, logo a seguir, reparei que umas nuvens grossas ocultavam o sol e, enfim, pareceu-me que nenhum dos meus planos fazia já nenhum sentido, pois é absolutamente certo que um preguiçoso consegue sempre encontrar um modo de justificar-se no caso de, como de costume, acabar a fazer coisa nenhuma, sentado no sofá a ler (mais) um livro ou diante do computador a escrever mais um pedaço de prosa inútil. Mas podia ser pior; podia ter-me dado (outra vez) para lavar as janelas do apartamento.