quinta-feira, 7 de outubro de 2010

O que eu gostei das visitadoras (e de todas as outras galdérias)



Mário Vargas Llosa, o escritor peruano, venceu hoje o prémio Nobel da Literatura. Como nos outros anos, é uma perda de tempo discutir se Llosa merece ou não o prémio ou se o conquistou na altura certa e por bons ou maus motivos, se tem bom ou mau feitio (o Nobel não é um concurso de miss simpatia). Haverá sempre, seja como for, alguns imbecis dispostos a fazer de conta que um Nobel é uma coisa sem importância e sem significado (espero que saibam de quem estou a falar), o que, em caso nenhum, mancha a qualidade literária do premiado. E a obra de Vargas Llosa merece o prémio pelo menos desde que escreveu Conversa na Catedral, que foi publicado em 1969 e que, por si só, pelo que teve de inovador e genial, justifica o galardão. Para além dessa (louca, brilhante, iluminada) conversa com Zavalita, o jornalista que gostava de putas, há ainda o enorme divertimento que é Pantaleão e as Visitadoras (1973), um romance que conta as rigorosas manobras de logística militar que conduzem à criação de uma estrutura profissional dedicada a levar mulheres aos longínquos e inóspitos assentamentos militares da selva amazónica, onde caritativamente deviam proceder ao alívio das tropas (foram feitos dois filmes, o mais recente dos quais corresponde à foto em anexo). Absolutamente fundamental (o livro, não o filme). E depois disso não li mais nada de Vargas Llosa. Nem vou fazer de conta que li só porque aconteceu o que aconteceu.