terça-feira, 24 de agosto de 2010

Pelo vale da Teja




Ao final da tarde, quando o sol já declina e o céu se encheu de nuvens, metemos por aquela estrada que desce do Vale da Teja até ao rio, àquela parte larga do rio em cuja margem acaba, lá ao fundo, de parar um comboio. É preciso encostar um pouco à berma até que acabe de passar o interminável e soberano rebanho das ovelhas lanzudas — bem vi que eram duas as ovelhas negras, e não apenas uma, o que há-de ter certa importância para o convívio de tanto gado —, mas depois a estrada seguiu serpenteando entre os vinhedos traçados por um geómetra caprichoso e chegou-se, um pouco atrasado, ao fim da estrada e ao comboio, que passou há pouco e, por isso, deixou no ar aquele estranho perfume das ferrovias antigas, misto de aço, madeira e memória. O comboio foi-se, já era, mas não importa, porque, àquela hora do entardecer, quando a luz do sol já não alcança o fundo do vale, o ar tem uma temperatura perfeita, há milhões de cigarras cantando e a casa do Vesúvio está mesmo ali adiante, como uma espécie de sonho, e o rio parece ter sido deixado ali para que o visse.