quinta-feira, 1 de julho de 2010

Fui dizer adeus ao meu cinema



Fui ontem à última noite dos Cinemas Cidade do Porto. Despedi-me daquele que, nos últimos anos, foi o meu cinema, assistindo, com mais dezoito pessoas, à última exibição de Estômago, um filme do brasileiro Marcos Jorge (interessante, mas que até já tinha passado pelas salas dos multiplexes com pipocas). Com o encerramento das quatro salas do Cidade do Porto, inúmeros filmes de cinematografias marginais deixarão de poder ser vistos na segunda maior cidade do país, uma vez que, agora, a exibição destas obras passa a estar quase limitada à sala do Teatro do Campo Alegre, que não será materialmente capaz de estrear tudo aquilo que vale a pena. Mas talvez seja suficiente. Habituei-me, ao longo dos anos, a ver cinema em salas praticamente vazias, e não sei, sinceramente, se tão pouca gente justifica o investimento necessário para digitalizar uma sala de cinema. Mas também não consigo deixar de achar bizarro (porque já não estranho nada, nem me espanto com coisa nenhuma) que a câmara da segunda cidade de um país não diga um ai perante uma coisa destas, apesar de ter divulgado, esta semana, um comunicado criticando uma autarquia vizinha que não respondeu a um e-mail. Vendo bem as coisas, até faz sentido. Quem elege esta gente estava, ontem à noite, a ver telenovelas na televisão ou, na melhor das hipóteses, engrossando a multidão que foi assistir à estreia do Eclipse.