terça-feira, 20 de julho de 2010

Doenças profissionais

Quando chegou ao Camboja, em 1972, o jornalista italiano Tiziano Terzani notou que os soldados metiam na boca os pequenos budas que traziam ao pescoço. "Disseram-me que ajudavam a repelir as balas e concluí que também eu precisava de um, conta Terzani no livro Disse-me um Adivinho (edição portuguesa da Tinta da China). Assim fez: comprou um pequeno buda de marfim e, para que a sua protecção se tornasse efectiva, levou-o para que fosse benzido por um monge. O chefe do pagode quis saber de que pretendia Tiziano ser protegido e, para isso, perguntou-lhe pela profissão. Jornalista? "Então deve ser protegido do fogo, da água e da sífilis". Eram outros tempos, obviamente. Em 21 anos de jornalismo, já vi colegas afectados por doenças coronárias e vasculares, stress, tendinites, problemas cardíacos, hérnias discais, toxicodependência, dificuldades para compatibilizar o sono, obesidade, alcoolismo, cefaleias, hemorróides, gastrite e mau feitio, mas nunca ouvi falar de um único que se queixasse de sífilis.