terça-feira, 18 de maio de 2010

As lições da Feira do Livro: irrelevância e falta de critério

Parecendo que não, o pequeno folhetim em torno da Feira do Livro do Porto (desenvolvimentos também aqui) é um bom resumo daquilo em que a minha cidade está transformada: tornou-se irrelevante e é gerida sem nenhum critério.

O Porto teve, durante décadas, uma Feira do Livro relativamente autónoma, a qual decorria mais ou menos em simultâneo com o certame de Lisboa e nas datas que se considerava serem as mais convenientes. Quando, porém, a Câmara do Porto decidiu transferir a feira do Pavilhão Rosa Mota (o qual ia entrar em obras que, entretanto, nunca mais começaram) para a Avenida dos Aliados, tomou uma decisão que a expôs à dependência quase absoluta: para poupar o dinheiro que custariam os novos pavilhões, aceitou que a feira aproveitasse as barraquinhas de Lisboa, que têm que ser desmontadas, transportadas e remontadas na Baixa.

A feira do Porto passou, assim, a começar apenas alguns dias depois do fim da feira de Lisboa e na dependência desta. Este ano, a organização decidiu prolongar o certame de Lisboa por mais uma semana, adiando, assim, o início da feira do Porto. E decidiu-o sem sequer dar conhecimento à Câmara do Porto e anunciando, ao mesmo tempo, que o certame se mudaria da Avenida dos Aliados para a Rotunda da Boavista.

Ultrapassada e desrespeitada, a Câmara do Porto já pouco podia fazer. Teve que engolir as novas datas impostas e apenas conseguiu fazer finca-pé quanto à realização da feira na Avenida dos Aliados, conforme está protocolado com a APEL. E fê-lo argumentando com o objectivo de “dinamizar” e “trazer pessoas para a Baixa”. Ora, não é preciso andar muito atento para perceber que a Baixa, hoje, é um sítio bem mais animado e com mais gente do que a Rotunda da Boavista, uma espécie de deserto arborizado situado diante da Casa da Música e que quase ninguém utiliza.

Não fosse a teimosia da câmara e o melindre entretanto criado e, bem vistas as coisas, esta teria sido uma excelente oportunidade para distribuir a animação pelas aldeias. Acresce que a Rotunda da Boavista tem árvores e sombra, coisa que, em Junho, seria de grande utilidade para quem tenha a ideia de visitar a Feira do Livro durante a tarde e para os funcionários que lá têm que penar. Só quem não os viu transpirar e enrubescer debaixo de temperaturas próximas dos quarenta graus é que pode sustentar que a Avenida dos Aliados é um bom sítio para instalar uma Feira do Livro.