quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Paixão solitária

Ainda não li o Manual da Paixão Solitária, mas, tanto quanto consigo perceber, Moacyr Scliar invoca, neste romance, a passagem do Velho Testamento em que Onan, filho de Judá, se recusa a engravidar Tamar, preferindo deixar o sémen correr para a terra e inaugurando, assim, o onanismo. A expressão passou, entretanto, a descrever todo e qualquer acto de amor solitário, aquilo a que Alexandre O'Neill se referia recorrendo à doce expressão “esgaramantear a laustríbia” (e que um amigo meu, mais prosaico, descrevia como um namoro com a irmã da canhota).

Somos, enquanto rapazes novos, um pouco soezes e, vá lá, porcos, de pouco nos valendo, nessa altura, possuir a erudição suficiente para descrever o vil pecado com uma referência ao Génesis e a um –ismo. Uma punheta é apenas uma punheta, não tem mal nenhum e alivia, mas o mundo rodeia-nos e ameaça-nos: que vicia, que provoca borbulhas, que faz crescer pêlos na palma da impura mão, que provoca a cegueira do pecador. E, mesmo assim, esgaramanteamos insensata e temerariamente a laustríbia de cada dia.

Creio que de nada servirão, portanto, os alertas segundo os quais o Viagra pode também induzir a perda de visão em diferentes graus ou mesmo provocar visão azulada. Quando se trata de esgaramantear, não há mito urbano que resista às naturais pulsões. Visão azul? Não deve ser pior do que aquelas televisões a preto-e-branco de antigamente com um plástico azul à frente, para fazer de conta que eram a cores. Há sempre quem goste.