quarta-feira, 25 de março de 2009

Videoarte

À libido do macho comum em estágio primaveril, nada presta mais eficiente serviço do que um videoclip de Beyonce Knowles, um qualquer – desde que, evidentemente, o objectivo do varão em causa consista em manter os instintos alerta, frementes, como há-de suceder ao lobo diante do banquete grátis do rebanho sem guarda; caso contrário, o visionamento pode, é certo, tornar-se particularmente doloroso, por excessivamente sugestivo, não sendo raros os casos em que ao espectador desarmado ocorre o impulso de cair ao chão de joelhos e chorar convulsivamente, como terá ocorrido àqueles que se acharam diante do Santo Graal.

Peças sublimes de videoarte como Irreplaceable, Naughty Girl, Beatiful Liar (genial na duplicação algo alucinogénia do luminoso objecto do desejo, ao fazer Beyonce contracenar, em ondulantes movimentos corporais, com a colombiana Shakira) e Crazy in love constituem já um corpo conceptual de inatacável interesse estético, dialogando com igual eficiência com as hormonas ferventes do adolescente com borbulhas e com a sexualidade pachorrenta do obeso chefe de família em digressão pós-prandial pelos canais da TV Cabo. Quando, em Crazy in love, Beyonce avança por uma espécie de passarela em passos firmes e resolutos, em trajes diminutos, esvoaçantes e garridos, não seria excessivo, em meu entender, render uma sentida homenagem à sensualidade selvagem da diva, seja rebentando num entusiástico aplauso em pé, seja guardando um respeitoso minuto de silêncio, conforme a cada um parecer melhor demonstrar devoção.

Numa significativa evolução recente, entenderam os estrategas da videografia de Beyonce Knowles introduzir o preto-e-branco como linguagem estética predominante. O subterfúgio, exercitado em peças como Flaws and all e If I were a boy, operou uma verdadeira revolução discursiva. Se, porém, o objectivo passasse por amenizar a feroz sensualidade da cantora, só muito escassamente tal desiderato poderia considerar-se alcançado, pois mesmo fardada de polícia e transpirando no vestiário da 13º esquadra (If I were a boy) Beyonce inspira os mais destemperados arrebatamentos. Para dizê-lo cruamente: dá vontade de, vá lá, fazer a corte à bófia (o que, juro sobre a cabeça do Santo Inácio, padroeiro dos onanistas, nunca antes me tinha ocorrido).

Se o preto-e-branco não subtraiu um grama que fosse à explosiva deriva sensível de Beyonce enquanto imprescindível objecto de adoração e devaneio, teve, ao menos, o condão de lhe conferir uma dimensão icónica – o preto-e-branco apela inevitavelmente à contemplação intelectual e confere status artístico até a um bife bem passado. Na verdade, porém, a saudável e sugestiva contenção imposta por aqueles dois exemplos ruiu fragorosamente assim que ficou pronto o vídeo promocional de Single Ladies, a preto-e-branco, sim, mas no qual Beyonce, acompanhada por duas moças harmoniosamente fornidas, extravasa a dimensão comum da exaltação estética. Servido por um par de coxas para o qual talvez não haja adjectivo capaz de fazer justiça, a cantora rebola e agita, sacode e encanta, surge-nos em casa como uma aparição de eros e afrodite, epifania acabada da desbragada arte de praticar o coito em toda a sela. Absolutamente aconselhável, é verdade, a menos que o leitor amigo padeça de insónias ou de qualquer outra maleita do foro nervoso.
Cinco estrelas.