domingo, 15 de março de 2009

Sempere

Um dos jogadores da selecção espanhola de râguebi, que neste momento defronta a selecção portuguesa no Estádio Universitário de Lisboa, chama-se Sempere – como a personagem barcelonesa dos dois best-sellers de Carlos Ruiz Zafón, A Sombra do Vento e O Jogo do Anjo. Ocorre-me uma ideia esdrúxula, mas algo poética: torturados pela trágica herança literária dos seus antepassados, os actuais Sempere comporiam agora uma trupe totalmente dedicada a vilipendiar o corpo em partidas de râguebi sem lei, de modo a que não lhes ocorra sequer a possibilidade de cuidar de matérias intelectuais ou de algo que remotamente se aparente com a literatura. A ser este o caso, Vasco Uva estará apenas a cumprir um desígnio superior à sua vontade, placando Sempere como se não houvesse amanhã, de modo a mantê-lo afastado do cemitério dos livros esquecidos ou de qualquer outra tentação literária. Pelo que tenho visto, duvido que, no final do jogo, o espanhol tenha a mais pequena vontade de se aproximar de algum objecto que não seja um saco de gelo.