sábado, 14 de fevereiro de 2009

Repara bem, Joana, que o povo gosta de ti

Bem sei que não dei a devida atenção ao afastamento de Joana Amaral Dias da Mesa Executiva do BE ou ao seu quase apagamento no vídeo histórico apresentado aos militantes do partido no passado fim-de-semana – e não posso, sequer, argumentar que me dediquei exclusivamente ao assunto da cunicultura, pois estaria a mentir com os dentes todos. Penitencio-me publicamente, pois. O caso, porém, merece, mais do que atenção, preocupação.

Eu estou inquieto. Qualquer militante de base sabe perfeitamente que não há gajas giras nos partidos de esquerda. Confrontados com esta triste realidade, milhares de progressistas tiveram que lidar, anos a fio, com a mais clássica das hesitações políticas: escolher entre uma rapariga muito esperta ou cair nos braços das belas reaccionárias do CDS. Quando, porém, Joana Amaral Dias apareceu embelezando as acções de agit prop de Louçã, pareceu o ovo de colombo, o nec plus ultra, a demonstração de que uma terceira via era possível (o Tony Blair que me perdoe o pragmatismo).

Ao afastar Joana Amaral Dias, o BE está (basicamente) a defenestrar uma boa parte do capital político que tinha conseguido reunir. Dir-me-ão, bem sei, que resta Ana Drago. Não desgosto. Mas, convenhamos, Drago não reúne o potencial dialéctico de Joana, nem a subtil e doce coerência ideológica desta fundadora do BE. Ao desprezar Joana Amaral Dias, o BE regressa à contramão da história, ao mais cinzento maoísmo e, enfim, ao tempo em que as raparigas de esquerda não tinham longas sobrancelhas retocadas com Maybeline, nem longos, sedosos e desfrisados cabelos loiros.