sábado, 1 de novembro de 2008

Muñoz

Esta noite, com tantas visitas, era natural que eles não se mexessem (com a excepção daquele que sussurra para a parede branca de Serralves). Mantiveram as poses, uns sorrindo, outros disfarçando, como se não fosse da sua natureza fazerem mais nada do que estarem ali para serem vistos. Mas eu sei, ou suspeito, que, quando as luzes do museu se apagarem, os pequenos homenzinhos de Juan Muñoz hão-de esticar as pernas, acabar os gestos suspensos, descer dos pedestais, tirar as máscaras, pousar os tambores e tomar conta das salas desertas; creio que se sentarão em círculos para jogarem às cartas, que correrão pelos corredores, que farão equilibrismo nos cabos que sustentam as duas figuras suspensas e jogarão às escondidas nas caixas onde passam intermináveis filmes de Manoel de Oliveira; alguns chinesinhos cinzentos de Many Times continuarão juntos em pequenos grupos, provavelmente conspirando graves revoluções; e o anão com ar de boneco de ventríloquo saltará da prateleira de Wasteland e ficará ensaiando minúsculos passos de dança no pavimento geométrico, esperando que Muñoz lhe ofereça o conforto de um par.